19 de abril de 2012

[FanFic - Onze Colheitas] "Os assassinos doentios" Distrito 2

 "Os assassinos doentios" - Distrito 2

_Por que você está tão lenta hoje? – perguntou Sebastian com aquela voz calma e fria de sempre.
Já chega, pensei.
Cravei a adaga no tronco mais próximo, recolhi minhas coisas e parti para casa,o último treino antes da Colheita. Sebastian não disse nada como sempre e depois de poucos segundos, já estava ao meu lado, caminhando com passos firmes.
_Te encontro mais tarde? – perguntei quando chegamos ao ponto em que nos separávamos.
Ele assentiu e logo depois desapareceu. Era sempre assim com Sebastian. Calmo, calculista, doentio, assassino. E apesar de tudo, eu continuava a não sentir nenhum medo diante da perspectiva de encará-lo na arena dali a poucos dias, quando colocaríamos o nosso plano em ação. Nenhum tributo terá chance contra nós, e quando chegar a hora, farei todo o meu esforço para matá-lo, era o que eu repetia todas às vezes ao fim dos treinos.
Sorri ao pensar nisso. Sebastian nunca fora um amigo, apenas um parceiro de combate, seria um prazer matá-lo e se possível de uma forma lenta, para que eu pudesse tirar proveito de cada segundo de dor. Minha vingança.
Cruzei a esquina e entrei em casa. Silêncio, como sempre. Tudo era igual, nada mudava. Até hoje, pensei com prazer. Hoje representaria o início, finalmente. O velho bêbado que se considerava meu pai não estava em casa, não duvidava que ele estivesse jogado na frente de algum bar, não que eu me importasse.
Assim que entrei no banheiro fui atingida por uma memória, da vez em que enfaixara o ombro de Sebastian após tê-lo apunhalado com uma faca por acidente, nunca me esqueci do prazer que sentira ao ver todo aquele sangue derramado no chão. Foi pensando nisso que me arrumei para a Colheita, peguei uma das minhas melhores roupas que comprara com o dinheiro que meu irmão enviava todos os meses com o seu trabalho de pacificador no Distrito 7. Tinha adotado aquela opção de futuro até o momento em que começara a treinar para os jogos, porém, agora eu só teria duas opções e me apoiava mais naquela em que eu sairia vitoriosa da arena.
Tomei pouco mais de quinze minutos para estar pronta, olhei uma última vez para meu quarto simples com armas mortais penduradas em todos os cantos. Se eu saísse vitoriosa nunca mais voltaria aquele lugar, nunca mais moraria naquela casa, seria eu e apenas eu num lindo lugar com cerca branca e sem vômito do velho bêbado pelos corredores e paredes. Não parei para contemplar a casa ao passar pelo portão, já estava na hora de eu encarar apenas o que viria pela frente.
Chegando ao Prédio da Justiça, notei que eu era uma das últimas a chegar e que não havia nenhuma preocupação em algumas pessoas de serem escolhidas como tributos, muitos tinham ido para lá apenas por obrigação, pois todos sabiam que esse ano era meu e de Sebastian. A menos que essas pessoas quisessem ser mortas a caminho do trem, era melhor que elas ficassem quietas e não abusassem da sorte.
Procurei por Sebastian na multidão e o encontrei numa das primeiras filas, de braços cruzados e com uma expressão que parecia tédio, sorri ao vê-lo, era raro notar qualquer coisa além de sua habitual quietude. Adiantei-me numa das fileiras da frente e acenei com a cabeça para ele, que retribuiu o gesto e voltou a olhar para frente no momento em que Olive subira ao palco.
A impressão que ela dava era de que a cada ano, sua aparência piorava, dessa vez usava um traje amarelo tão brilhante que cheguei a desviar a vista, com uma peruca preta e mechas coloridas que ia até a cintura. Sem falar naqueles sapatos horrorosos, que se estivessem na Cornucópia, eu os usaria como uma arma mortal para apunhalar qualquer um que resolvesse me enfrentar.
A chata apresentação começara, o hino, o discurso de incentivo, já enjoara daquilo tudo, minha paciência também tinha limites afinal. Resolvi observar os adultos, havia poucos dessa vez, nenhum deles estava preocupado com seus filhos, como disse, esse ano era meu. Para minha total surpresa, meu pai era um dos que estavam entre os poucos e chocar mais, ele aparentava estar sóbrio. Agora estou delirando, pensei.
Voltei a atenção ao telão para analisar meus competidores. Observei atentamente os voluntários do 1 para ver se eles poderiam ou não fazer parte de meu plano com Sebastian, a garota parecia ser mais fraca do que aparentava, mas ambos poderiam se encaixar.
Finalmente, a hora chegou.
_Hora de escolher nossos tributos! – disse uma Olive animada que continuou parada no lugar, sabia o que estava por vir.
Sebastian e eu não demoramos a nos mexer e em segundos, já estávamos no palco, encarando a multidão entediada, não precisamos falar nada e nem repetir o patético ‘ eu me voluntario como tributo’ que muitas pessoas de outros distritos repetiam. Ser voluntários era um grande feito para elas.
_Ora ora, dois voluntários! – falou Olive sem qualquer tom de surpresa em sua voz – digam os seus nomes, digam!
_Morgana Mors – disse ao tomar o microfone de Olive e depois passá-lo para Sebastian, que mal me olhou.
_Sebastian Averni – disse calmamente.
_Muito bem muito bem! – Olive recuperou seu microfone e sorriu para a platéia – Dêem as mãos e que a sorte esteja sempre a favor de vocês dois!
Sebastian me encarou com seus olhos castanhos claros e trocamos um pequeno sorriso discreto, nossas mãos se entrelaçaram e pelo aperto, pude sentir o quão forte ele era. Oficialmente, éramos aliados e inimigos.
Olive nos expulsou do palco e ao olhar de esgoela para a multidão, percebi que meu pai desaparecera, o velho bêbado deveria estar comemorando o fato de que a casa seria apenas sua daqui para frente. Recusei entrar na sala em que os pacificadores me levaram e fui para a mesma de Sebastian, onde ficamos quietos encarando um ao outro. Contemplei sua forma física, os cabelos curtos de cor castanha, o rosto bonito e sem expressão que muitas vezes eu deixara alguma cicatriz durante os treinos, todos os seus músculos definidos que foram muito bem trabalhados em todos aqueles anos difíceis. Eu sabia sobre seu passado, o menino que apanhava dos pais e os matara quando completara dez anos, que passara a viver num tipo de orfanato e arranjara briga com todas as crianças que lá moravam, Sebastian era um encrenqueiro apesar de tudo.
Admito que em outro tempo, se não fossemos inimigos, eu cogitaria a possibilidade de passar um tempo a mais com ele. Sorri ao perceber que isso nunca seria possível, pois não demoraria aos Jogos chegarem e eu sair vitoriosa, independente do preço.
Eu iria matar todos, e não ser morta.


Postado por Bia ^^

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