22 de abril de 2012

[FanFic - Onze Colheitas] Distrito 9

 Distrito 9 

Quando acordei o Sol batia no meu rosto como acontecia todas as manhãs, ele é meu despertador diário e de todos os moradores do campo também.A noite foi tranquila e sem sonhos. Gosto de sonhar,mas depois de anos sem eles você acaba se acostumando.
Depois de me vestir adequadamente, sai do quarto e desci as escadas para encontrar os cômodos vazios. Sou filha única e meus pais estavam trabalhando ainda, mas logo chegariam. Por serem casados, seus horários são sempre os mesmos,até hoje não sei se isso é algo bom ou ruim.Saí de casa exausta do dia anterior,com sono e um pouco de fome,mal consegui terminar meu caldo com aveia e já estava atrasada para o trabalho, atrasos nao eram tolerados e caso acontecesse, eu teria que pagar de algum modo.
Nem mesmo no dia da colheita nós deixamos de trabalhar.Cada turno dura 8 horas exatas,depois somos substituídos por outro grupo graneiro.Meu grupo era composto por pessoas da minha idade, todas garotas. Nunca temos contato com os meninos dos grupos masculinos que ficam do outro lado do bosque, que separa os campos. Minha rotina é corrida, estudo 3 vezes por semana durante 5 horas,e essa horas estão prestes a diminuir, pois a Capital mandou um comunicado oficial dizendo que os jovens campistas estão produzindo pouco,e isso é totalmente contra as regras.Bom,eu não gosto de estudar mesmo. As matérias na escola são chatas e ensinam aquilo que já sabemos por experiência própria nos campos, muitas vezes prefiro faltar e trabalhar que do ficar em um prédio onde muitos me odeiam.
Não tenho amigos, ninguém conversa comigo na classe.Tudo por causa de meu passado.Meu Avô paterno era um pacificador,o mais rígido e impiedoso do Distrito 9,até ser banido por desligar a cerca elétrica por uma hora.Ninguém sabe ao certo se foi proposital para matar os que tentassem fugir,ou apenas um engano.Mas a Capital disse que foi traição,e a Capital nunca se engana
Chegando ao campo, entrei no galpão onde eles designavam as tarefas do dia e a região onde você trabalharia, por sinal a fila estava enorme.Quando chegou minha vez, finalmente, algumas pessoas que chamamos de capatazes, me entregaram as luvas ásperas e pesadas de costume e o cartão de identificação.

Mandye Stoller
Trigo - zona:10

Droga,a pior zona possível.Ela fica perto da cerca eletrificada que separa os Campos da estrada,é impossível sair sem algumas marcas vermelhas e machucados.Minha cota do dia era bem abaixo do normal já que eu tinha me inscrito obrigatoriamente na “Colheita Anual” assim como anos antes também.
Levou algum tempo para o sinal tocar e os candidatos irem pras suas casas se prepararem.Encontrei meus pais em casa comendo o resto do caldo,ambos pareciam exaustos.
-Temos 20 minutos querida,se apronte rápido.-disse minha mãe.
-A senhora vai me acompanhar esse ano?
-Sim,seu pai vai trabalhar até mais tarde hoje.Não se preocupe vai ficar tudo bem.
-Eu sei,mas queria que os dois fossem.
-Desculpe querida - disse meu pai - Mas como sua mãe disse,vai dar tudo certo.Se apronte,antes que perca o ônibus.
Depois de uma luta com um vestido super apertado, desci para encontrar minha mãe que já estava do lado de fora esperando.Dei um abraço apertado em meu pai e ele beijou minha testa me desejando sorte.O ônibus nos levaria a central dos Campos,que ficava a 50 minutos a pé.Os antigos tributos andavam,mas depois de alguns anos muito prósperos nas lavouras, a Capital nos premiou com o transporte para os candidatos.Dentro do automóvel,minha mãe fez uma pergunta,que me surpreendeu e ao mesmo tempo me chocou.
-O que faria se fosse escolhida?
Eu fixei meus olhos nos dela,e pensei um pouco pra responder.
-Faria de tudo para sobreviver,como qualquer um.
-Nem faria uma estratégia?Ou uma aliança...
-Alianças são desonestas e inúteis, você vai ter que matar todos mais cedo ou mais tarde.Porque as perguntas?
-Não sei,é curiosidade.Tenho medo que você suba naquele palco e desapareça.
-Papai disse que vai ficar tudo bem.Confio na sua intuição.
Ela suspirou profundamente.E então eu pedi a coisa mais maluca de todas:
-Se eu for um Tributo mesmo,não quero que você vá falar comigo na sala de espera.
-O que...Porque?Que loucura é essa?-ela disse tentando manter a calma,mas a dor na voz denunciava seu nervosismo.
-Não quero que pense que nunca mais vou voltar.Nos três precisamos ter esperança.Só vou conseguir forças sabendo que vocês me esperam em casa,me assistindo e sabendo que vou voltar.Você promete?
-Não,nunca,isso é fora de questão...
-Por favor,por mim.Eu ficarei mais tranqüila.E além disso,eu não serei sorteada mesmo.Por favor.
Ela olhou em meus olhos e viu que eu não mentia, pude enxergar seu medo.
-Está bem,eu juro.

***
Todos estavam reunidos na frente do grande palco,em uma grande clareira no meio dos campos,e logo atrás o prédio da prefeituras se erguia como um monumento velho e gasto,totalmente inabitado já que o prefeito morava na Capital a alguns anos.
Minha mãe se despediu com um abraço e corri para fila, já era minha segunda fila em menos de um dia.E eu não estava com um bom pressentimento.O pior foi encontras os meus colegas de escola todos conversando alegremente,e apontando e soltando risadas pra mim como a excluída,a sem amigos.Eles não estavam errados.
Depois da Divisão entre meninos e meninas,o símbolo da Capital apareceu nas grandes telas montadas ao redor do palco, todos fizeram silêncio enquanto o hino era tocado. Após isso,um homem alto e magro de cabelos que brilhavam como diamantes,subiu no palco com um pequeno sorriso nos lábios,e começou seu pronunciamento, eu não escutava direito,só queria que tudo aquilo acabasse.
E então a hora do sorteio chegou,primeiro as garotas.
O homem colocou a mão a urna de vidro e retirou um pequeno papel, anunciou o nome logo apos abrir.
- Mandye Stoller – gritou.
Não,não podia ser eu.
Deveria haver uma outra Mandye Stoller em algum lugar,poderia ser coincidência,ou erro.Mas a capital não cometia erros.Nunca.Os que me conheciam olharam para mim esperando alguma reação,um movimento,um grito mas nem isso eu conseguia fazer.Eu estava dormente da cabeça aos pés,cansada de tanto trabalhar,e até cansada demais para reagir.
Foi um passo de cada vez até o palco,e os murmúrios continuavam.Passei pelas garotas da minha área,elas estavam de cochichos e pararam ao me ver e abriram caminho com um sorriso no rosto, que para os desavisados poderia até soar amigável e gentil.Para mim era doentio.Subi no palco e fiquei ao lado do apresentador,que me cumprimentou com um beijo nas costas das mãos e sorriu para as câmeras da Capital.
Não tive coragem suficiente para olhar o público e ver os olhares satisfatórios das pessoas, mal prestei atenção quando o menino foi escolhido, um garoto moreno o qual o nome começava com U, não consegui ouvir.
Conduziram-me a uma sala sem móveis,onde eu iria ter a minhas últimas visitas de parentes ou responsáveis. Pensei no meu pedido para minha mãe mais cedo, talvez ela aparecesse, se ela realmente se importasse apareceria, afinal ela era minha mãe, certo?
E então a coisa mais desesperadora e angustiante naquele dia aconteceu.
Ninguém passou por aquela porta.

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